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domingo, 11 de novembro de 2012

Sobre capas jogadas ao vento e seguir a Cristo: A Capa de Bartimeu como símbolo de renúncia.


Jonas Dias de Souza[1]
Muito se ouve falar sobre a importância da capa para a cultura hebraica. Entre os objetos furtados e que fez o povo de Deus pagar caro, havia uma capa. “Respondeu Acã a Josué: Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel, e eis o que fiz: quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata debaixo da capa.” (Josué 7: 21)
                O Profeta Elias, como demonstração de escolha de um sucessor fez uso da capa.“Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, estando ele com a duodécima; chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre ele.” (I Reis 19:19)
                Posteriormente o profeta Elias usou a sua capa para abrir o rio Jordão.“ Então Elias tomou a sua capa e, dobrando-a, feriu as águas, as quais se dividiram de uma à outra banda; e passaram ambos a pé enxuto.”  (II Reis 2:8)
               Elias foi arrebatado ao céu num carro de fogo com cavalos de fogo e num redemoinho. A capa ficou de herança para Eliseu. “tomou a capa de Elias, que dele caíra, voltou e parou à beira do Jordão.” (II Reis 2: 13)

       Jesus nos ensina que devemos nos despir de nossa capa: “Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, não lhe negues também a túnica.” (Lucas 6: 29)
O apóstolo Paulo, entre outros objetos que havia deixado para traz em Trôade, pede também a capa: “Quando vieres traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos.”  (II Timóteo 4: 13)
Percebe-se que possuir uma capa nos tempos bíblicos era algo extremamente útil, necessário e indispensável. Por vezes, a capa era o único bem que possuía uma pessoa. Quando falamos em capa, falamos no sinônimo manto. Manto nos remete para algo que protege e guarda.
Biblicamente encontramos também várias passagens em que o manto é descrito.
Davi cortou a ponta do manto de Saul: Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego o teu inimigo nas tuas mãos; far-lhe-ás como parecer bem aos teus olhos. Então Davi se levantou, e de mansinho cortou a orla do manto de Saul. (I Samuel 24: 4)

Jó rasgou o seu manto quando ficou sabendo da tragédia que abatera sobre ele: “e eis que sobrevindo um grande vento de além do deserto, deu nos quatro cantos da casa, e ela caiu sobre os mancebos, de sorte que morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou;” (Jó 1: 19-20)

Os amigos de Jó vieram consolá-lo e também rasgaram seus mantos: “E, levantando de longe os olhos e não o reconhecendo, choraram em alta voz; e, rasgando cada um o seu manto, lançaram pó para o ar sobre as suas cabeças.” (Jó 2:12)

O mesmo Jó compara o manto à justiça: vestia-me da retidão, e ela se vestia de mim; como manto e diadema era a minha justiça”. (Jó 29:14)
O profeta Isaias descreve a visão do manto do Senhor quando morreu o réu Uzias: “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo”. (Isaias 6:1) .
Descreve ainda: “vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs na cabeça o capacete da salvação; e por vestidura pôs sobre si vestes de vingança, e cobriu-se de zelo, como de um manto.”  (Isaias 59: 17)
O manto é sinônimo de justiça: “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no meu Deus, porque me vestiu de vestes de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como noivo que se adorna com uma grinalda, e como noiva que se enfeita com as suas jóias.” (Isaias 61:10)

Tocar na orla do manto com Fé permitia trazia a cura: “E eis que certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, chegou por detrás dele e tocou-lhe a orla do manto;” (Mateus 9:20)
Como vemos, um manto, uma capa, era naquela época a vestimenta mais importante que um homem podia possuir.  Permitia-lhes abrigar das intempéries e até servir como travesseiro.
Interessa-nos sobremaneira, a história da cura de Bartimeu:
“Depois chegaram a Jericó. E, ao sair ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, estava sentado junto do caminho um mendigo cego, Bartimeu filho de Timeu.
Este, quando ouviu que era Jesus, o nazareno, começou a clamar, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!
E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem compaixão de mim.
Parou, pois, Jesus e disse: Chamai-o. E chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.
Nisto, lançando de si a sua capa, de um salto se levantou e foi ter com Jesus.
Perguntou-lhe o cego: Que queres que te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu veja.
Disse-lhe Jesus: Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente recuperou a vista, e foi seguindo pelo caminho.” (Marcos 10: 45-52)

Bartimeu era um mendigo cego, filho de Timeu. Quando Jesus saiu de Jerusalém para Jericó, ocorreu um encontro que mudou para sempre a vida deste homem. Jesus caminhava para sua última Páscoa, em breve sofreria o martírio do calvário para consumar o nosso resgate. Bartimeu esta ali às margens do caminho, sentado e mendigando. Imaginemos um tempo onde não havia discursos de inclusão social (exceto os pregados por Jesus), e onde os meios de ganhar o pão pelo trabalho era essencialmente a força física. Imaginemos ainda, uma sociedade onde as necessidades especiais eram vistas como sinônimo de pecado e desgraça. Desgraça nos remete para aquilo que está fora da graça. Bartimeu muito provavelmente estava acostumado a ouvir as notícias pelo caminho. Com a passagem de Jesus não foi diferente. Mendigando se pão cotidiano, ele ouviu que o mestre estava passando por ali.
Ele começou então a clamar. Clamar é mais do que pedir. É pedir de forma insistente. É bradar.
Segundo Houaiss:

1             proferir em altas vozes; gritar, bradar, exclamar
2             protestar com veemência; reclamar, vociferar
3             suplicar, pedir instantemente; rogar, implorar, exorar
Ex.: <c. (por) misericórdia> <clamava a Deus que lhe minorasse o sofrimento>
 4            exigir com urgência; tirar por, reclamar

Bartimeu clamou por Misericórdia. Havia no clamor daquele cego, o que os mestres das sinagogas não haviam percebido. Bartimeu reconhece que Jesus pertencia à linhagem real de Davi. Ele clamava para que Jesus, “filho de Davi” tivesse misericórdia dele. Notamos com o estudo da Bíblia que Jesus, mais tarde encetou uma discussão com os Judeus religiosos sobre este tema.
Bartimeu clamou. E a primeira reação do povo foi mandar que ele se calasse. “E muitos o repreendiam para que se calasse”. Assim acontece até hoje. Quando buscamos um encontro verdadeiro com Cristo, muitos querem calar-nos com suas palavras de desânimo. Isto acontece em todas as Igrejas, independente de sua denominação. Bartimeu contudo, não desanimou. Ele clamava cada vez mais e mais. E assim como encontramos pessoas a anos desanimar, encontramos pessoas que nos incentivam. Com ensinamentos, com exortações, com palavras de conforto. “Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama”. Estas são as pessoas que confiam no nosso trabalho.
O cego Bartimeu sai da beira do caminho. Ele, que estava às margens daquela sociedade, representado pela beirada (junto ao caminho), vai ao encontro de Jesus.
Em recente pregação, ouvimos do predicador a menção de que o povo certamente esperava que Bartimeu pedisse uma moeda ou um pedaço de pão. Mas ele pediu um milagre. Confiante no poder do Salvador, ele pediu para que lhe fosse dada a visão.
Onde está a renúncia?
Lembre-se que iniciamos falando de capas. Agora vamos imaginar uma pessoa cega, atirando ao vento aquilo que possui de mais precioso em termos materiais. Bartimeu lançou a sua capa. Ele não dobrou e nem pediu para que alguém a segurasse. “E ele lançando de si a sua capa foi ter com Jesus” . Jogou aquilo que lhe protegia. Pois não é difícil conjecturar, que ele enrolava-se na capa para proteger-se do frio; fazia-a de travesseiro; recolhia nela as moedas que lhe atiravam; enfim podemos conjecturar que havia uma simbiose entre o cego e seu bem. Mas para caminhar de encontro a Cristo, ele lançou fora a sua capa.
Mas há uma coisa implícita neste texto que precisamos ver. Além do milagre passageiro de cura da visão. Ele seguiu a Cristo. Bartimeu saiu das margens do caminho e seguiu a Cristo pelo caminho. Porque? Ele não poderia voltar e agora arrumar um trabalho já que foi inserido socialmente. Não! Ele preferiu buscar a Salvação. Este é o maior milagre deste relato. A visão terrena cessaria com a morte física deste homem. Contudo, Jesus abriu-lhe os olhos espirituais. Ele já reconhecia que Jesus era o Filho de Davi. Ao seguir Jesus pelo caminho, ele descobre e aceita que conforme nos ensina o evangelista João:“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14:6)
Bartimeu (fora do círculo dos apóstolos) situava-se entre os primeiros a proclamar que Jesus era Filho de Davi. Mesmo censurado pelas pessoas que o cercavam, mostrou-se convicto. Podemos conjecturar que ele conhecia as escrituras.
O Profeta Isaias disse em seus escritos acerca do Messias: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos;” (Isaias 61:1)
Bartimeu sabia que sua prisão na cegueira seria aberta. Que seu coração contrito acharia valor diante de Jesus. Observamos ainda que Jesus não lhe ordenou que não proclamasse a sua messianidade, como havia feito anteriormente. Por saber que o coração de Bartimeu exultava com a cura, mas, com a Salvação das trevas eternas exultava ainda mais.
Ao ser censurado pelos que estavam em volta não se incomodou. Foi o último milagre descrito no livro de Marcos e Bartimeu não perdeu a sua chance.  Ao atirar a sua capa fora e caminhar rumo a Cristo, ele despojou-se do homem velho e alcançou a luz eterna. Bartimeu lançou fora de si a sua capa e abrigou-se no manto de misericórdia que é Jesus.

Bibliografia:

Bruce, F. (2008). Comentário Biblico NVI: Antigo e Novo Testamento (1ª ed.). (F. Bruce, Ed., & V. Kroker, Trad.) São Paulo, SP, Brasil: Vida.
Gardner, P. (2005). Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Vida.

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