O primeiro interprete da
Palavra de Deus foi o Diabo, lá no Jardim do Edém (Gn 3), que atribui a palavra
divina um sentido que ela não tinha, falseando astuciosamente a verdade. Mais
tarde o mesmo inimigo falseia o sentido da Palavra escrita, truncando-a, ou
seja, citando a parte que lhe convinha e omitindo a outra (Mt 4).
Conscientes ou
inconscientemente, muita gente tem imitado Satanás, interpretando a Bíblia de
maneira totalmente equivocada. Esses tipos de interpretação tem como resultado
grandes desgraças e catástrofes, exemplo: a Inquisição. Por isso a primeira e
correta regra de interpretação bíblica deve ser: “a Bíblia interpreta a própria
Bíblia”.
Ignorando ou violando esse
princípio simples e racional temos encontrado suposto apoio nas Escrituras para
muitos e nefastos erros. Fixando-se em palavras e versículos “arrancados” de
seu conjunto ou contexto e não permitindo à Escritura explicar-se a si mesma,
os judeus encontraram nela um apoio fictício para rejeitar a Cristo. Procedendo
da mesma maneira, os papistas encontraram aparente apoio na Bíblia para os
erros do papado e das matanças e torturas orquestradas pela Inquisição. Atuando
assim, os espíritas pensam achar aparente apoio para sua errônea reencarnação;
os russelitas para seus erros blasfemos. Se todos tivessem a sensatez de
permitir que a Bíblia se explicasse a si mesma evitariam graves e desastrosos
erros.
Por causa desse abuso aqui
apontado, dize-se que na Bíblia se encontra apoio para muitas doutrinas
totalmente erradas. Isso tudo é causado pela má vontade, a preguiça em
estudá-la, o apego a ideias falsas e mundanas e a ignorância de toda regra de
interpretação.
A primeira e fundamental
regra da correta interpretação bíblica deve ser aquela que diz: a Escritura
explicada pela Escritura. Cada escritor das Escrituras tinha seu estilo
próprio, segundo a revelação que lhes era dada pelo Espírito Santo. Não é de
admirar que se utilizasse de uma linguagem apropriada à ocasião, à sua
formação. Dessa forma, para se obter o sentido completo das Escrituras não se
pode desprezar o estudo do contexto, da gramática, das palavras e das passagens
paralelas. Por isso a importância de recorrermos ao Estudo Bíblico do livro
para o conhecimento do ambiente e da formação do escritor.
Não podemos menosprezar o
abismo cultural resultante de significativas diferenças entre cultura dos
antigos hebreus e a nossa. Devemos lembrar-nos que a Palavra de Deus foi
originada de modo histórico e, por isso só pode ser entendida à luz da
história. Cada um de nós vê a realidade através de olhos condicionados pela
cultura e por uma variedade de outras experiências.
O pressuposto fundamental da
teoria da hermenêutica é: “o significado de um texto deve ser aquele que o
autor tinha em mente e não aquele que o leitor deseja impor-lhe”. O Senhor
Jesus nos exorta a examinar as Escrituras para encontrarmos nela a verdade, e
não interpretá-la para estabelecermos a verdade segundo a vontade do homem.
ANALISAR O TEXTO DENTRO DE
TODO O SEU CONTEXTO
Num texto ou em uma
sequencia de textos, o contexto é constituído pela sequencia de parágrafos ou
blocos que precedem e se seguem imediatamente ao texto, e que podem de uma
forma ou de outra, quando suprimidos, não revelar os seus desígnios.
Na Bíblia, assim como em
toda boa literatura, devemos ter uma compreensão do todo a fim de apreciar e
entender as partes. Nunca devemos tratar um livro da Bíblia como uma coleção de
passagens isoladas. São histórias, poemas e cartas conectadas.
De acordo com Esdras Bentho,
autor do livro: “Hermenêutica Fácil e Descomplicada”, o exame do contexto é
importante por três motivos:
1- As palavras, as locuções
e as frases podem assumir sentidos amplos;
2- Os pensamentos
normalmente são expressos por sequencia de palavras e frases.
3- Desconsiderar o contexto
acarreta interpretações falsas, além de se constituir uma eixegese.
TOMAR O TEXTO EM SEU SENTIDO
USUAL E ORDINÁRIO
Os escritores das Sagradas
Escrituras escreveram de modo que todos entendessem seus escritos. Para que
isso fosse possível, valeram-se de palavras conhecidas e entendidas pelo povo
em geral. Devido ao ambiente que viviam, bem como à cultura da sua época,
fizeram uso abundante de várias figuras de linguagem, como a retórica, símiles,
parábolas, etc. Além disso, ocorrem expressões peculiares do idioma hebreu,
chamados hebraísmos. Precisamos ter consciência de tudo isso para podermos
determinar qual é o verdadeiro sentido usual e comum das palavras e frases das
Escrituras que chegaram até nós. Averiguar e determinar qual é o sentido usual
e ordinário deve constituir, portanto, o primeiro cuidado da interpretação ou
correta compreensão das Escrituras.
LEVAR EM CONTA A INTENÇÃO DO
AUTOR
A Bíblia tem um lado humano,
e assim nos encoraja como também nos desafia a interpretá-la. Ao falar através
de pessoas reais, numa variedade de circunstâncias, por um período de 1500
anos, a Palavra de Deus foi expressa no vocabulário e nos padrões de pensamento
daquelas pessoas, e condicionadas pela cultura daqueles tempos e
circunstâncias. Por estarmos distantes deles no tempo, e às vezes no
pensamento, precisamos aprender a interpretar a Bíblia levando em conta a
intenção do autor humano.
LEVAR EM CONTA O ESTILO
LITERÁRIO
Deus, para comunicar sua
Palavra para os homens, escolheu fazer uso de quase todo tipo de comunicação
disponível: história em narrativa, as genealogias, as crônicas, leis de todos
os tipos, poesias de todos os tipos, provérbios, oráculos proféticos, enigmas,
drama, esboços biográficos, parábolas, cartas, sermões e apocalipses, ou seja,
a Bíblia contém uma riqueza infindável de estilos literários.
Quando conhecemos o estilo
da literatura que estamos lendo, podemos entendê-la melhor. Lemos história com
uma postura diferente de quando lemos uma poesia. Gêneros diferentes evocam
expectativas e estratégias de interpretação diferentes.
LEVAR EM CONTA A BÍBLIA COMO
UM TODO
A leitura da Bíblia enquanto
Palavra de Deus pressupõe a fé na revelação e a disponibilidade em acolher tal
Palavra como diretiva para interpretar e organizar a própria vida. Ler as
Escrituras à luz de toda a mensagem bíblica, o completo consenso divino, não
apenas nos previne de interpretações errôneas como também nos proporciona um
entendimento mais profundo da Palavra de Deus.
Apesar de muitos autores
humanos terem contribuído para escrever a Bíblia, Deus é o seu Autor último. E
ao mesmo tempo em que a Bíblia é uma coleção de muitos livros, ela também é um
só livro. A Bíblia contém muitas histórias, mas todas elas contribuem para uma
única história. Consequentemente, devemos ler uma passagem, ou até mesmo um
livro da Bíblia, no contexto do corpo do ensino e doutrina que flui da história
completa da revelação progressiva da Palavra de Deus.
LEVAR EM CONTA O CONTEXTO
HISTÓRICO
A compreensão dos textos
bíblicos deve levar em conta as características dos textos. Antes de tudo, são
livros que provem de um passado distante. O texto está distante do leitor pela
língua e pela lógica interna, e também enquanto proveniente de um contexto
histórico muito diferente. O leitor de hoje encontra-se numa situação diferente
de compreensão, vive em condições de vida e dispõe de uma mentalidade diferente
em relação aos primeiros leitores do texto. Tais distâncias temporais e
culturais podem obstacular a compreensão. A leitura dos textos sob o aspecto
histórico investiga o enraizamento de um texto na realidade histórica, ou seja,
busca colocar às claras a relação entre o texto e o evento narrado.
A VISÃO DOS REFORMADORES
Os reformadores criam na
Bíblia como sendo a Palavra inspirada de Deus. Mas, por mais que fosse sua
concepção de inspiração, concebiam-na como orgânica ao invés de mecânica. Em
certos particulares revelaram até mesmo uma liberdade notável ao lidar com as
Escrituras. Ao mesmo tempo consideravam a Bíblia como a autoridade suprema e
como côrte final de apoio em disputas teológicas. Em oposição à infalibilidade
da Igreja, colocaram a infalibilidade da Bíblia. Sua posição é perfeitamente
evidenciada na declaração que: a Igreja não determina o que a Escritura ensina,
mas a Escritura determina o que a Igreja deve ensinar. O caráter essencial de
sua exegese era o resultado de dois princípios fundamentais:
1) A Escritura interpreta a
Escritura;
2) Todo o entendimento e
exposição da Escritura deve estar em conformidade com a analogia da fé. Isto é,
o sentido uniforme da Escritura.
- Lutero. Ele prestou à
nação alemã um grande serviço ao traduzir a Bíblia para o vernáculo alemão.
Também se empenhou no trabalho de exposição, embora somente em uma extensão
limitada. Suas regras hermenêuticas eram melhores que sua exegese. Embora não
desejasse reconhecer nada além do sentido literal e falasse desdenhosamente da
interpretação alegórica, não se afastou inteiramente do método desprezado.
Defendeu o direito do julgamento particular; enfatizou a necessidade de se
levar em consideração o contexto e as circunstâncias históricas; exigia fé e
discernimento espiritual do intérprete; e desejava encontrar Cristo em todas as
partes da Escritura.
- Melanchthon. Foi a mão
direita de Lutero e seu superior em erudição. Seu grande talento e conhecimento
extensivo, também de grego e hebraico, estavam bem adaptados para transformá-lo
em um intérprete admirável. Em sua obra exegética, procedia segundo os
princípios sadios de que:
a) Escritura deve ser
entendida gramaticalmente antes de ser entendida teologicamente;
b) A Escritura tem apenas um
sentido claro e simples.
- Calvino. Foi por consenso,
o maior exegeta da Reforma. Suas exposições cobrem quase todos os livros da
Bíblia, e o valor delas ainda é reconhecido. Os princípios fundamentais de
Lutero e Melanchthon também foram os seus, e ele os superou ao conciliar sua
prática com sua teoria. Viu no método alegórico, um artifício de Satanás para
obscurecer o sentido das Escrituras. Acreditava firmemente no significado
simbólico de muito o que se encontrava no Antigo Testamento, mas não
compartilhava da opinião de Lutero de que Cristo deveria ser encontrado em
todas as partes da Escritura. Além disso, reduziu o número de Salmos que
poderiam ser reconhecidos como messiânicos. Insistiu no fato de que os profetas
deveriam ser interpretados à luz das circunstâncias históricas. Como ele via, a
excelência primeira de um expositor consistia de uma brevidade lúcida. Além
disso, considerava que “a primeira função de um intérprete é deixar o autor
dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que ele deveria
dizer”.
- Os católicos romanos.
Esses não fizeram nenhum progresso exegético durante o período da Reforma. Não
admitiam o direito de julgamento particular e defendiam em oposição aos
protestantes, a posição de que a Bíblia deve ser interpretada em harmonia com a
tradição. O Concílio de Trento enfatizou:
a) Que a autoridade da
tradição eclesiástica devia ser mantida;
b) Que a autoridade suprema
tinha de ser atribuída à Vulgata;
c) Que era preciso
harmonizar a própria interpretação com a autoridade da igreja e do consenso
unânime dos Pais da igreja.
Onde esses princípios
prevalecem, o desenvolvimento exegético sofreu uma parada repentina.
OBADIAS
O livro de Obadias é o
quarto dos profetas menores, e contém apenas um capítulo em que prediz a
destruição de Edom (9), dando como causa a mortandade e o agravo feito a seu
irmão Jacó (11). É o livro mais curto do Antigo Testamento.
AUTOR
É atribuído ao profeta
Obadias, seu nome significa “servo ou adorador do Senhor”. É um nome bíblico
comum, atribuído a mais de uma dezena de personagens no Antigo Testamento.
Obadias é contemporâneo do profeta Jeremias. A profecia dele é a mesma de
Jeremias 49.7-22
DATA
O período que o livro foi
escrito não pode ser determinado com certeza. Apesar de que alguns eruditos
conservadores atribuem a profecia algum tempo antes da queda de Jerusalém (586
a.C.), a destruição da cidade, apresentada nos versículos 11 a 14, mais
apropriadamente cabe dentro da destruição ordenada por Nabucodonosor, da qual
sabemos que os edomitas participaram (Sl 137.7; Lm 4.21).
O oráculo de Obadias foi
datado de diversos períodos que variam entre 850 e 400 a.C. A data pode ser
determinada pela suposição de que os versículos 11-14 se referem a um período
específico na história da interação israelita com a nação de Edom. Os dois acontecimentos
mais prováveis são:
1 – O ataque a Jerusalém
pelos filisteus e árabes, por volta de 844 a.C., durante e reinado de Jorão
(2Cr 21.16-17);
2 – A destruição de
Jerusalém pelos babilônios em 587 a.C. (2Rs 25.1-12). Situar Obadias após a
queda de Jerusalém parece ser a opção mais favorável, já que a conquista total
da cidade descrita no versículo 11 é mais bem explicada pela invasão de
Nabucodonosor com o cerco e a pilhagem da capital de Judá. Nesse caso Obadias
então seria da época de Jeremias.
A correspondência existente entre Obadias 1-9
e Jeremias 49.7-22 levou muitos a cogitar algum tipo de interdependência entre
esses profetas, mas é possível que ambos tenham usado uma fonte comum que hoje
desconhecemos.
EDOM
A luta entre Israel e Edom
(Esaú) datava do início do seu nascimento; “Os filhos lutavam no ventre dela”,
(Gn 25.22). Esaú, depois de vender a Jacó o seu direito de primogenitura,
desprezava não somente esse direito, mas houve grande inimizade entre os dois
irmãos. Jacó teve de fugir para salvar sua vida. Deus mandara que Israel não
aborrecesse seu irmão, Edom (Dt 23.7). Mas quando Nabucodonosor conquistou
Jerusalém, os edomitas participaram cruelmente, no despojo e massacre (11).
Assim seu cálice de iniquidade transbordava e Deus, por intermédio de Obadias,
sentenciou a nação a ser exterminada. Depois da restauração de Israel, Ciro
massacrou milhares deles. Foram esmagados pelos judeus nos tempos dos Macabeus.
Herodes, era edomita (idumeu). Depós da destruição de Jerusalém em 70 a.C., os
idumeus desapareceram da história do mundo.
CONTEXTO
Edom, a nação que descendia
de Esaú, sempre se mostrou antagônica para com Israel, a despeito de serem
irmãos. Muitos profetas receberam a incumbência de entregar mensagens de
condenação contra Edom (Amós, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Malaquias), que
frequentemente chamavam a atenção para a atitude de autossuficiência e orgulho
de Edom, como raiz de seu pecado.
A nação de Edom situava-se nos planaltos e
desfiladeiros de arenito na extremidade sudeste do mar Morto, desde o riacho de
Zerede até o norte do golfo de Ácaba ao sul. Havia forte organização tribal em
Edom desde os tempos patriarcais (Gn 36.1-30). Os edomitas passaram para a
forma de governo monárquico antes que Israel saísse do Egito. Quando o povo de
Jacó em peregrinação para Canaã pediu que lhe fosse concedido o direito de
atravessar as terras de Edom, eles negaram e os ameaçaram com uma demonstração
de força (Nm 20.14-21; 21.4).
Depois desse episódio, Edom e Israel
coexistiram pacificamente até o reinado de Saul e Davi (1Sm 14.47; 2Sm
8.13,14). Judá controlou Edom durante o reinado de Jorão (853-841 a.C.), quando
os edomitas se rebelaram e conseguiram sua independência (2Rs 8.20-22).
Invasões posteriores a Edom pelos reis judeus Amazias e Uzias (2Rs 17.7;
14.22), foram limitadas e resultaram apenas no controle temporário de parte do
território edomita.
Em 597 a.C., o controle do Neguebe foi tirado
de Judá pelos babilônios (2Rs 24.8-17) e os edomitas se mudaram para a região.
Edom não só auxiliou a Babilônia na pilhagem de Jerusalém em 587, como também
ocupou algumas vilas de Judá até o período persa.
PROPÓSITO E MENSAGEM
Obadias proclamou uma
mensagem de três partes às nações (1). Em primeiro lugar condenou orgulho e a
crueldade de edomitas para com Judá.
Em segundo lugar, o profeta se dirigiu ao
remanescente fiel de Israel e assegurou o triunfo final de Deus e a justiça
sobre a perversidade de todas as nações no dia do Senhor (15, 16).
Finalmente, implícito nesta
breve profecia e praticamente em toda a literatura profética do Antigo
Testamento está o domínio universal do Senhor Deus sobre as nações.
A profecia de Obadias a respeito da
retribuição divina contra Edom por auxiliar e se vangloriar do dia da desgraça
de Judá serve de advertência a todas as nações, já que elas também correm o
risco de receberem a retribuição por suas ações à medida que o dia da ira do
Senhor se aproxima (15, 16). Mais importante para Israel, essa afirmação
profética da atividade divina na história foi criada para relembrar seu amor
pelo povo fundamentado na aliança e, assim, pretendia oferecer uma palavra de
incentivo no presente e uma promessa de esperança futura ao remanescente de
Jacó diante do desastre recente (Sl 111.2-9; Lm 3.21-28).
LIÇÃO ESPIRITUAL
O especial e providencial
cuidado de Deus para com os judeus e a certeza do castigo para com o que os
perseguem.
ESBOÇO DE OBADIAS
A sentença de Edom por causa
de seu orgulho e de sua maldade contra Jacó, VV. 1-16.
A libertação do povo
escolhido e a inclusão de Edom em seu reino futuro, VV. 17-21.
FONTES:
Novo Dicionário da Bíblia -
John Davis – Ed. Hagnos
Panorama do Antigo
Testamento – Andrew E. Hill & J. H. Walton – Ed. Vida
Pequena Enciclopédia Bíblica
– Orlando Boyer – Ed. CPAD
Bíblia Shedd – Ed. Vida Nova
Bíblia de Estudo NVI – Ed.
Vida
Bíblia Thompson – Ed. Vida
Hermenêutica – E. Lund &
P.C. Nelson – Editora Vida
Hermenêutica – Módulo 5 da
FTB – Editora Betesda
Princípios de Interpretação
Bíblica – Louis Berkhof – Editora Cultura Cristã
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